terça-feira, 1 de dezembro de 2009

memórias dolorosas

Era uma tarde chuvosa, o céu estava nublado durante todo o dia, nos convidando a ficar dentro de casa para assistirmos a televisão. Eu na época tinha uns 8 a 9 anos. Eram mais quatro irmãos: Um mais velho que ficava normalmente na rua durante todo o dia, a Bia era a segunda mais velha, dois anos a mais que eu. Era uma menina esguia, olhos grandes e  com ar de triste, chamada pela minha vó de moleque-macho pois estava sempre correndo, subindo árvores, apostando corrida: sempre competindo comigo.
Depois de mim vinha a Genaina: pequenina, sempre muito quieta, muito doce e  havia ainda o menor: Juninho. Muito novinho ainda, não sabia de nada que acontecia a sua volta.
Exalava um cheiro delicioso de doce de jaca no ar. Ah! eu adorava aquele cheiro. Quando abri a geladeira senti ainda mais o aroma daquele doce caseiro de jaca manteiga. Oba! vou me esbaldar...
Ouvi o barulho de portão abrindo, seguido de passos pelo corredor até chegar a cozinha: Era o meu pai. Tinha uma estrutura média, pele queimada pelo sol e mãos calejadas de trabalhar em obra, sua profissão o obrigava a se ausentar regularmente de casa. 
 Ele vai até o fogão, abre as panelas e violentamente lança a metros de distância a panela de pressão, liberando um sonido que fez minhas entranhas estemecerem. Estava visivelmente bêbado, mal conseguia se manter de pé: Tal cena era infelizmente frequente para nós.
Nos entreolhamos, Podia ver o terror nos olhos das minhas irmãs; resistentemente não chorava, aprendi desde cedo a esconder sentimentos que transparecessem fraqueza.
Minha mãe entra pela porta com braços cruzados, olhos fixos no meu pai como se quisessem fuzilá-lo. O ambiente ficou mais oprimido do que já estava; era uma mulher magra mas muito forte. Principalmente sob efeito de seus "guias" que hoje sabemos que eram demônios que  apisionavam ela e  toda a minha família. Sua natureza sempre foi de nunca  levar desaforo sem resposta a altura.
Os dois passam a discutir violentamente, seus gritos podiam ser ouvidos por toda vizinhança. O que mais temíamos acontece: socos, pontapés, chutes, panelas caindo, os dois se enfrentavam de igual pra igual. Nós sem sucesso tentávamos separá-los, parecia que o inferno se instalara na minha casa. Meus tios correm para socorrer-nos e separam os dois com muita dificuldade.
Tivemos que ir para casa da minha vó que era ao lado da nossa. Um turbilhão de sentimentos me invadiu. Um misto de terror, raiva, mágoa... pensava comigo mesmo: "tomara que ele morra!".
Custei dormir aquela noite, as imagens estavam ainda passando pela minha cabeça numa velocidade insuportável.


Histórias como essa acontecem com milhões de crianças no mundo inteiro. A violência familiar, seja verbal ou física, é a mais traumática de todas violências, pois acontece dentro do lugar onde essas crianças deveriam se sentir seguras.


Depois disso, perdi a paixão pelo doce de jaca, seu cheiro me dá um certo desconforto...


Um abraço!


Gedmar

Um comentário:

  1. Essa história realmente acontece em incontáveis familias em todo o planeta, e cabe a nós, como Igreja do Senhor, alcançar essas familias através do amor de Deus implantado em nós!

    Abraço tio Ged.

    Asaph Carvalho

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